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Carne de cavalo

25 de fevereiro de 2013

[Publiquei esse texto no meu facebook esses dias. Foi a resposta positiva a ele que me motivou a começar esse blog. Sendo assim, achei bastante justo  usá-lo para inaugurar a sessão de posts]

Eu vejo várias pessoas horrorizadas com o fato de que a Nestlé encontrou, na Bélgica, DNA de cavalo em produtos cárneos provenientes da JBS. (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1232871-escandalo-da-carne-de-cavalo-respinga-em-frigorifico-no-brasil.shtml)

carne_cavalo

O que me preocupa é que as pessoas parecem se indignar mais com o fato de a carne SER de cavalo (per se) do que a troca (ou fraude) feita: eles adquiriram uma carne supostamente bovina que continha traços de equina. Como já apontou minha amiga Luciane, o real problema é “comprar gato por lebre”.

Na verdade, apesar de nós brasileiros não termos o costume de consumir carne de cavalo, ela é a maior fonte de proteína em países da Ásia Central (notavelmente o Cazaquistão), além de ser considerada uma iguaria em países como Japão, França e Itália, muito utilizada para a produção de frios e embutidos. E, claro, tem um custo bastante superior à bovina.

Existe um tabu muito grande com o consumo de carne equina no Brasil e em certos países pelo fato de os cavalos serem considerados animais de lazer, esporte, trabalho e até estimação. Entretanto, o alimento não é ilegal e (até onde eu sei) nem proibido pelas principais religiões locais, exceto o judaísmo.

Além disso, não há nenhum problema de saúde associado ao consumo do produto, desde que o animal seja criado, abatido, processado, acondicionado e transportado de acordo com boas práticas sanitárias. Muito pelo contrário: ele contém, proporcionalmente, menos colesterol e sódio, e mais ferro (quase o dobro) quando comparado à carne bovina.

Mesmo com esse tabu todo, o Brasil foi o 7º maior produtor do mundo dessa carne em 2009, praticamente 100% exportada. E advinha qual o principal destino do produto? Isso mesmo, a Bélgica, pivô da polêmica! Os belgas têm toda uma culinária baseada na carne equina. Mas o importante para eles – e estão certíssimos – é saber o que estão comprando e de onde veio. Simples assim.

Mais informações: http://en.wikipedia.org/wiki/Horse_meat#cite_note-3 – [inglês]
http://www.vianderichelieu.com/produits-cheval.php – [francês]

*Em tempo: Conforme bem lembrado pelo meu amigo Queiroz, é possível encontrar traços de carne equina numa remessa de carne bovina caso os animais sejam abatidos, processados, acondicionados e transportados nas mesmas instalações ou próximas o suficiente. Nesse caso, cabe ao produtor discriminar a possibilidade. Mais para a frente, em outro post, irei tratar da questão geral da comum frase “esse produto pode conter traços de…”

10 Comentários
  1. Vitor permalink

    Olá Pedro, parabéns pelo texto, que além de muito bem escrito, expressa o real problema nessa história toda. Continue com os posts!
    Abraços.

  2. Jose permalink

    Carne de gente tb dá pra comer, se a justificativa for essa, estamos fritos.

    • Que pena que foi só isso que você conseguiu tirar do meu post 😦 . Enfim, tente aplicar tudo o que eu escrevi para carne humana e veja se faz sentido…

  3. Muito curioso como a cultura influencia na aceitação ou não de algum produto. Meu irmão, por exemplo, me disse que já comeu sim carne de cavalo e que é uma iguaria no Japão. E ainda disse que lá é muito caro comer carne de boi. Na Coréia é a mesma coisa, carne de boi não é tão boa quanto no Brasil e é mais cara. É bem mais comum ter carne de porco e frango.

  4. Natália permalink

    Você acha que nós, seres humanos, precisamos da carne nutritivamente? Ou apenas nos alimentamos por prazer? Visto que o nosso organismo não é como o de animais carnívoros, em que nossa digestão é bem mais lenta e absorve as tóxinas da carne.

    • Pedro Menchik permalink

      Olá Natália. Não sou nutricionista, mas entendo que seja possível obter os nutrientes necessários tanto com dietas vegetarianas quanto carnívoras. O fato é que o ser humano é um animal onívoro, ou seja, é adaptado para consumir alimentos de origem vegetal e animal. Isso pode ser observado ao analisarmos nossa flora intestinal: http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL533307-5603,00-SERES+HUMANOS+FORAM+FEITOS+PARA+COMER+DE+TUDO+SUGERE+FLORA+INTESTINAL.html
      Existem certas coisas que não somos capazes de digerir, tanto de plantas (exemplo: celulose) como de animais (exemplo: ossos). De maneira semelhante, também há toxinas que podem ser perigosas de ambas as fontes, como cianetos em raízes e venenos e répteis.

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